quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O Protesto

Chegou como qualquer um que vinha ao que vinha. Não se distinguia de quem por ali andava, ou mesmo de quem apenas por ali passava. No rosto, no aspecto, na figura, a mesma expressão comum naquela noite que, afinal, não tinha arrefecido assim tanto.

Apenas um senão o diferenciava dos outros. Apenas um pormenor o individualizava do colectivo sem forma específica. Uma caixa de papelão que trazia debaixo do braço. Lá dentro espreitavam algumas folhas de papel A4, escritas apenas de um dos lados.

Quando as pessoas começaram a chegar a este espaço que de cultura tinha o nome, as folhas começaram a sair lá da caixa de papelão que estava debaixo do braço de quem não se distinguia particularmente dos outros ali a cirandar. E lá foram sendo distribuídas por entre a perplexidade de quem as recebia.

Nada tinham a ver, as folhas que estavam na caixa de papelão, com o que ali se passava. Mas tinham a ver com a vida de quem as distribuía. Quase maquinalmente. Das muitas vezes com que repetia o gesto de comunicar.

Não sei se alguém reteve o lá escrito. Alguns chegaram mesmo a ler a folha toda. Os que leram, leram afinal um protesto de alguém que se sentia injustiçado. E que, se calhar, apenas sonhava um mundo mais justo.

Sem comentários: