quarta-feira, abril 18, 2007

Memórias da minha gente

- Olha, parece que anda perdido.

Tínhamo-nos sentado há pouco. A mesa cheirava bem e sugeria-nos alguns sabores que nos esperavam com a paciência do apreciador.

A esta hora, a sala começava a encher-se e no ar as palavras perdiam-se em gestos cúmplices, esquecidos do tempo.

- É pá: está mesmo perdido.

Quando olhei para o lado, apenas os talheres, o copo, o guardanapo, me fizeram lembrar a sua ausência. Do vazio do lugar, soou-me bem aos ouvidos o ruído do silêncio que se abateu sobre nós.

Passados uns momentos, que de breves tiveram a lonjura do nosso espanto, chegou, preocupado e triste.

- Caramba, andava mesmo perdido. Coitado. Parecia tão triste.

E chegando-se para trás, na cadeira onde se sentara, abandonado de desalento, ficou-se por um

- Raio do “canito”. Deve ter-se perdido do dono.

Era o meu amigo Carlos, em todo o seu melhor. De amigo dos animais.

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