segunda-feira, julho 28, 2008

Quotidianos [II]

De desencontros não queria que se tornasse o tempo que tinha à sua frente. Até porque talvez já fosse tempo de transformar a nostálgica apatia com que acabava por mergulhar nos dias que corriam em animado querer e desejar.

No jardim, que acabava por deixar, acabava por ficar a sua própria apatia. Acabava por ficar o que há algum tempo o queria continuar a prender e a abafar.

No jardim que acabava por deixar, ficava igualmente a espera feita vazio, ausência. Ao não conseguir aguentar o momento de ânsia, de querer e não querer, a sua amiga apenas tinha proporcionado que descobrisse um novo tempo, o tempo de ousar, o tempo de arriscar outros desejos, outros destinos, outros horizontes.

Desceu com o vagar dos que conhecem o longe e o distante a rua estreita que o haveria de levar até ao pequeno café, onde, se não todos os dias, pelo menos quase todos, costumava sentar-se e pôr em dia a leitura dos jornais. Era um hábito ganho no tempo em que era útil, quase vital, que conhecesse o que se ia passando nesta aldeia global que acaba por ser a de todos nós. Hábitos de funcionalismos, quase sempre públicos.

Passou a porta, estranhamente larga para casa tão pequena, e viu-a. Na mesa onde se costumava sentar, alguém lhe acenava e convidava a estar. Entrou ainda mais devagar, como se o tempo da demora fosse afinal o tempo do desejo. E sentou-se. Com a calma e a tranquilidade dos que conhecem o sabor da espera repleta de sensações de amena alegria.

Afinal, pensou, há desencontros que mais não são que oportunidades de novos encontros. Se calhar, a vida até acabará por ser mesmo isso, uma estrada cheia de encontros e desencontros. Que temos de percorrer. Quer queiramos, quer não.

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