quinta-feira, julho 31, 2008

Quotidianos [III]

Todas as tardes era costume aparecerem ali para os lados do Largo da Igreja os que, dispensados das suas ocupações de anos e anos de labuta, acabavam por poder gozar os dias com mais calma e tranquilidade. Melhor ou pior reformados, ou aposentados, como também é costume dizer hoje, ali, naquele espaço colectivo, davam asas às suas lembranças feitas memórias de dias que a maior parte das vezes até estavam já esquecidos.

E nas mesas, ali colocadas por quem, se calhar, já preparava os seus próprios dias futuros, aventuravam-se em torneios que, à semelhança de outros mais antigos, lhes acalmavam e acariciavam os egos já ressequidos.

Também ele, vindo dos encontros e desencontros que os dias proporcionam cada vez mais ao comum dos mortais, ali estava, cartas na mão, a lembrar lanças e espadas passadas, e pronto para a refrega que o haveria de saciar. Mesmo que de vitórias apenas descobrisse e sentisse as asas do sonho.

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